A bagaceira da premiação da Encontro Gastrô
- Lulu Peters
- 4 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Dizem que eu pego muito leve, hoje em dia, comparado ao tempo em que escrevia o Melhor e Pior de BSB e é a mais absoluta verdade. Mais que isso, foi um processo voluntário de melhor percepção dos atores do mercado gastronômico e maturidade empática. Mas, tudo tem limite.
Se eu tiver que apontar a maior falha da premiação da Encontro Gastrô, acho que seria a curadoria, mas dividida em dois pontos primordiais: definição de categorias e de parâmetros técnicos.
A verdade é que o fato de o Diário dos Associados, que detém controle sobre a publicação e a premiação anual, estar concentrada mais em Belo Horizonte do que em Brasília, tem feito diferença, sim.
Depois de "espantarem" jornalistas dedicados e excelentes, a Encontro parece ter ficado parada no tempo, do mesmo jeito que alguém de BH que veio à BSB há 20 anos e fala só das casas das quais se lembra...daquela época.
Acusações pesadas à parte, claramente não há uma figura que diga "essa casa não pode entrar na categoria, pois é uma franquia NACIONAL, com injeção de caixa completamente injusta comparado às outras casas locais" no âmbito da premiação.
A inclusão de um ou outro novato na disputa, como o notório caso da Confraria do Padim, a título de "canja", parece um processo muito similar ao "não sou homofóbico, eu tenho até um amigo gay".
Enquanto jovens sem grandes financiamentos lutam para reconstruir a cidade após a pand3mia, propondo comidas de excelência, mais especializadas; contribuindo, inclusive, com o desenvolvimento de uma cultura local de extrapolação do Plano Piloto; arcando com aluguéis exorbitantes, impostos torturantes e mão de obra escassa e cara (mais pela discrepância entre a qualificação do profissional e do excesso de tributos embutidos), uma revista que há muito não parece se identificar com a cidade, vem premiar verdadeiros gigantes. Alguns deles, pelamor, parte de conglomerados milionários nacionais e internacionais, como o caso do Madero, Coco Bambu e Fogo de Chão, para citar alguns dos indicados e vencedores mais revoltantes.
Nada contra as casas. Já comi em todas elas. Mas sabemos que fizeram parte de uma votação que, enfim, ficou feia.

Os alívios, para mim, são Castália como melhor padaria, mas que poderia ser melhor pizza; o brunch da Casa Almeria; as comidinhas do Chichá; a carta de cervejas do Galpão 17 (apesar de ser uma disputa séria com outros estabelecimentos); melhor restaurante de hotel para o Térreo (B Hotel) e, com certa ressalva, o Noru que, para mim, pode entrar em categoria contemporânea mais ampla, e não japonesa.
Vários vencedores de nenhuma maneira me "ofendem" pela mera vitória, como a Baco, Lago, Chef Ronny Peterson, Dom Francisco, mas ficou claro que muito se deu pelo privilégio de uma senioridade que pode ter pisoteado injustamente a galera nova que tá ralando com muito menos estabilidade e ajuda, sobre a qual mencionei acima.
Outros, já foram ofensivos, por claramente sequer encaixarem corretamente na categoria, como o caso do Vasto, para melhor carne. Sem contar essa bagunça: melhor churrascaria, melhor carne, melhor doceria, melhor confeitaria, melhor contemporânea, melhor variada....não faz sentido.
Enfim, uma coisa positiva saiu de tudo isso: para você que só reclama que Brasília não tem nada de novo e nem de bom na gastronomia, saiba, ou você não explora a cidade, ou trabalha na Encontro Gastrô.
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