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O paradoxo do arrependimento

  • Foto do escritor: Lulu Peters
    Lulu Peters
  • 13 de nov. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de fev.




Aos 45 anos de idade, finalmente percebi que o "norte" para uma vida plena é o acúmulo de ações que não geram arrependimento.

Apesar de parecer impossível viver uma vida sem nenhuma sensação de "eu deveria" ou "e se", eu percebi que há um paradoxo muito nítido na nossa relação com o arrependimento.

Na juventude, o arrependimento está muito mais concentrado no "não fazer" do que no "fazer". Por exemplo, aos 21 anos, acabar dormindo às 20h30, com o celular no silencioso e, por isso, perder uma festa de arromba, sobre a qual os colegas de faculdade passarão 1 semana tagarelando, contando piadas internas, pode ser um motivo para profundo arrependimento.

Não estudar direito para a prova, não sair com os amigos, não enfrentar um professor, parece que o acúmulo de arrependimento realmente circula mais sobre aquilo que deixamos de fazer. Parte do aprendizado. Viajar com gente desconhecida, usar roupas questionáveis, acho que a juventude é a fase do "Sim, senhor"!

Depois dos 40, pra mim, pelo menos, se tornou o oposto. É o "não" que acolhe minhas novas necessidades e me livra do arrependimento.

Nenhuma única vez ficar em casa dormindo me fez sentir pior do que ir a um evento social, que, por mais legal que tenha sido, me deixou exausta e sem foco nos dois dias seguintes. Dormir cedo nunca me deixou com ressaca moral, com sensação de que eu deveria ter agido diferente.

O mesmo acontece com o álcool. Por mais divertido que seja beber um bom vinho, não há qualidade de rótulo no mundo que te impeça de ser aplacado, destruído, pelos efeitos do álcoo depois dos 40. Ver a fatura do cartão de crédito depois de uma noitada dói até o final do mês. Nenhuma única vez eu me senti arrependida por não ter bebido.

Assim como já fui com ódio no coração para academia e para a natação, mas nunca saí com a sensação de ter sido um desperdício. O mesmo vale para certas conversas. É muito importante se impor e aprender a expressar seus sentimentos quando se é jovem. Mas vale ouro perceber com segurança quando uma certa conversa só vai te desgastar sem produzir nada de bom. Saber jogar a toalha e deixar o outro pensar o que quiser de você é muito libertador.




Claro que tudo tem um preço. Mesmo o "não fazer" traz consequências. Existe um luto nessas omissões propositais. Não brigar com alguém também é não apostar mais nessa relação. Não ir a eventos sociais é uma forma de isolamento, em que se perde algumas conexões possíveis.

Mas, até o momento, o 'não' tem valido muito a pena pra mim. Não ser tão disponível, não ser auto indulgente com vícios, não comer demais, não gritar tanto, não esperar tanto. A inação fala alto depois dos 40. E parece que quando a gente pára e respira e diz "não" como uma forma de se ouvir, de ouvir a própria intuição, ouvir a própria alma, as coisas parecem vir até você. As oportunidades são menores em quantidade, mas melhores em qualidade. As novas pessoas também. Quando seu foco passa a ser descobrir e preservar sua essência, quando você entende que a única coisa sob seu controle são suas decisões de alma, parece que o universo segura na sua mão, em um entendimento tácito de que ele está aqui justamente para ser o cenário da sua jornada interna. É só sobre ela.

Que engraçado. A vida que eu busco, agora, é focada no "não fazer" como uma forma de auto-preservação e saúde. Ironicamente, sinto que eu deveria ter buscado "fazer" mais quando era mais nova. Fazer e falhar é a nossa missão de juventude, enquanto o "não fazer" da maturidade é que acaba nos trazendo mais caminhos. Bom, antes tarde....do que mais tarde.

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©2023 por lulupeters

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